quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ivan Valente destaca história da UNE e cobra combatividade

Sra. Presidenta Alice Portugal, parabenizo V.Exa. e a Deputada Manuela d'Ávila pela iniciativa desta sessão solene; Srs. componentes da Mesa; Sra. Lúcia Stumpf, Presidenta da UNE, em nome de quem cumprimento a todos os estudantes da UNE que participarão do 51º Congresso em Brasília.A UNE talvez seja a entidade de movimento social e popular que acumulou mais memória e mais história no Brasil neste período. Participou não só da luta pela independência nacional, da luta pela soberania, contra o imperialismo e por um projeto de nação em determinado período, particularmente, teve papel destacado na resistência à ditadura militar.Militante, preso político da ditadura, clandestino, tendo passado pelos cárceres e convivido com tantos que tombaram na luta contra a ditadura, homenageio alguns deles, a exemplo de Honestino Guimarães, que conviveu conosco também na clandestinidade, Edgar da Matta Machado e tantos outros que resistiram à ditadura militar brasileira. Essa história e essa memória devem trazer à tona a razão da luta dessas pessoas. Em 1977 fui preso no Rio de Janeiro, em uma cela, uma geladeira do DOI-CODI do Rio de Janeiro. Na cortiça estavam escritos a unha 2 nomes muito caros ao PCdoB, Deputada Alice Portugal: Aldo Arantes e Haroldo Lima. Eu estava lá preso também e deixei o meu nome para registrar que vivemos um momento no Brasil extremamente sombrio de luta pela liberdade.Por que lutavam os líderes da UNE, independentemente das suas divergências?Lutavam não só por liberdade e democracia, mas por um projeto de nação, pela superação do capitalismo. E eram socialistas. É preciso que se diga aqui que os que resistiram à ditadura e que foram massacrados eram socialistas.A propósito da reconstrução dos 30 anos da UNE, de 1979 para cá, temos o dever de dizer que a ela participou de várias coisas, inclusive do movimento Fora, Collor. E resgato o nome de Lindberg Farias, hoje Prefeito.No entanto, hoje vimos Collor abraçado com Lula. Perdoem-me a contradição, mas temos de citar, porque temos também de reconstruir o imaginário de mudança social, de compromisso com a mudança, com a ética, e assim por diante.Nós continuamos a defender a soberania nacional; somos os maiores defensores do monopólio estatal do petróleo, essa riqueza nacional que pode ajudar a alavancar o Brasil para o futuro e que os Governos tucanos quiseram privatizar. Fomos radicalmente contrários a isso, nesta Casa e nas ruas.É preciso também que hoje se empunhem outras bandeiras. Falo de bandeiras como a de acabar com a ideia de que o Brasil precisa gastar 50% de seu orçamento com juros e amortização da dívida pública para transferir recursos líquidos e capital para o exterior. Como a de acabar com a ideia de que este Congresso precisa votar isenções fiscais para multinacionais para depois remetermos lucros para salvar a crise americana. Como a de acabar com a ideia de que o agronegócio precisa exportar, mesmo que ainda não tenhamos votado questões como a da aposentadoria para aqueles que ganham mais de um salário mínimo, ou o fator previdenciário, ou o projeto de nação, um giro na política econômica.Para isso, quero convocar os estudantes da UNE de hoje. A marca da UNE é a rebeldia, éo programa de mudança social, é a transformação, a participação. Essa é a vida, a seiva da União Nacional dos Estudantes, para resgatar a sua história e a sua memória.O Brasil andou muito. Claro, temos muito mais liberdade democrática, mas sabemos como continua a exclusão social em nosso País. Particularmente, quero dizer aos estudantes, ainda presentes aqui hoje, que talvez uma das questões centrais tenha sido não aceitarmos mais — aquilo que foi um acúmulo de tantos educadores — a criação de um Sistema Nacional de Educação, que foi transformado no Sistema Nacional de Avaliação, para eximir o Estado das suas obrigações mediante o financiamento público da educação e a universalização da educação básica e do ensino superior público de qualidade para todos.Que a UNE, novamente, resgate a ideia de não entrada do capital estrangeiro na educação brasileira; de não colocação da educação e escolas na Bolsa de Valores, porque educação não é negócio. Não podemos aceitar isso. Sra. Presidenta, agradecendo a tolerância, quero dizer o seguinte: espero, independente das divergências que os estudantes vão encontrar, das disputas políticas, que consigamos reencontrar no estudantado brasileiro as condições, a energia política que está faltando, para uma mobilização pela mudança social efetiva, contra os interesses do capital monopolista neste País e na defesa da ética na política. A UNE não pode passar ao largo do que está acontecendo, por exemplo, no Congresso Nacional. Ela precisa fazer também uma campanha de mobilização nessa direção pela ética na política.Viva a União Nacional dos Estudantes, viva os estudantes brasileiros, viva a luta socialista.

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