terça-feira, 9 de março de 2010

Séculos de resistência feminista, negra, indígena e popular


Há séculos as mulheres (feministas e não feministas) têm lutado contra as ideologias machistas que historicamente tem atuado no sentido de tentar naturalizar processos históricos e sociais que reafirmam uma suposta inferioridade das mulheres com relação aos homens. As mulheres têm lutado contra as relações de dominação cujo foco seja de ordem racial, sexista e de classe e contra as inúmeras relações hierárquicas que historicamente têm feito com que determinados grupos sociais possuam mais poder que outros. Isto porque essa distribuição desigual do poder é fundamental no processo de exploração por parte do capital.
Assim, as mulheres têm lutado contra práticas de opressão e de dominação existentes nas relações sociais, nas relações entre as pessoas não só no interior das instituições familiares, religiosas, educacionais e das organizações de luta, mas também nas estruturas de governos e, sobretudo, nas relações de produção.
Mulheres brancas, mulheres negras, mulheres indígenas, de todas as idades, que estão no campo ou nos centros urbanos, operárias ou não, têm resistido à todas as formas de exploração e dominação: a capitalista, a racista, a exploração da cultura dos povos indígenas, e às relações autoritárias.
Ao longo da história mais recente temos muitos e ricos exemplos.
As lutas das feministas socialistas, como Clara Zetkin e Alessandra Kollontai, contra a exploração dos capitalistas e também contra as relações de opressão na esfera domiciliar, defendendo o trabalho livremente associado e o amor livre. Elas organizaram as trabalhadoras para enfrentar as diversas formas de dominação através da luta política.
Mulheres como Nany na Jamaica, como Jacuba, Júlia, Dorothea, Una e Effa nas Guianas que enfrentaram os senhores de escravos, mulheres como Rosa Parks que se recusou a dar o seu lugar num ônibus a um homem apenas por este ser branco, iniciando nos Estados Unidos o Movimento dos Direitos Civis. Mulheres como Maria Felipa que lutou na guerra da independência na Bahia, mas não é lembrada no Dois de Julho. Mulheres que cotidianamente trazem na pele, no rosto, no cabelo, no sorriso a sua força e a certeza de que podem mudar essa situação.
Muitas mulheres têm resistido aos regimes ditatoriais como as “Madres de Plaza de Mayo”, que há décadas denunciam as práticas da ditadura, lutam pela verdade e pela justiça. Estas mulheres partiram de uma luta especifica (a luta por noticias dos seus filhos e pela punição dos agressores) e foram ampliando suas bandeiras, se posicionando contrárias ao pagamento da dívida externa e reivindicando a redistribuição da riqueza socialmente produzida.
Ao longo dos séculos, nós, mulheres, aprendemos a lutar contra as dominações perpetradas também pelas mulheres que representam os interesses dos grupos dominantes. Temos como exemplo deste enfrentamento a luta das mulheres indígenas mapuches chilenas que, em defesa das terras e das florestas, enfrentaram o poder de fogo da policia chilena, a mando de Michele Bachelet, além da greve de fome, da ocupação de ruas.
No Brasil algo semelhante aconteceu. Comprometidas com a igualdade, autonomia e soberania popular, as mulheres camponesas cortaram eucaliptos e plantaram árvores nativas em seu lugar, enfrentando a ação violenta do agronegócio e da política de direita da governadora Yeda Crusius (PSDB). As educadoras do Pará, em lutas por melhorias salariais, também denunciaram a ação autoritária da governadora Ana Julia (PT).
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, muitas mães negras, em luto pela morte dos seus filhos e/ou marido, têm se engajado na luta, denunciando as execuções sumárias e a arbitrariedade do Estado, bem como a banalização do horror.
Cabe registrar ainda a participação das mulheres nas frentes de luta por moradia no Brasil, com destaque para São Paulo e Bahia, sobretudo as mulheres negras que chefiam as famílias.
Os muitos séculos de luta e resistência negra, indígena, feminista e popular no Brasil nos deixaram como legado grandes referências: lideranças como Pagu, e Ana Montenegro; grandes guerreiras negras, como Luiza Mahim, como Dandara, como Zeferina, lutadoras que organizaram levantes pela libertação do povo negro, assim como Tia Ciata, mãe de santo, cozinheira. introdutoras da dança do sombra no Rio de Janeiro, promovendo sessões de samba em sua casa, na qualidade de Batalaô-omin, espaço considerado de resistência à cultura negra; mulheres como Cora Coralina que precisou vencer também a discriminação da idade; e mulheres indígenas, como Dona Maura, Tuira Kaiapó e Maninha Xucuru, grandes lutadoras e articuladoras da resistência indígena.
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